quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dos nossos Jograis

O PASSEIO DE SANTO ANTÓNIO

Saíra Santo António do convento
a dar o seu passeio costumado
e a decorar num tom rezado e lento
um cândido sermão sobre o pecado.
Andando, andando sempre, 
repetia o divino sermão piedoso e brando
e nem notou que a tarde esmorecia,
que vinha a noite plácida baixando
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O luar, um luar claríssimo nasceu.
Num raio dessa linda claridade,
o Menino Jesus baixou do céu,
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Perto, uma bica de água murmurante
juntava o seu murmúrio ao dos pinhais.
Os rouxinóis ouviam-se distante.
O luar, mais alto, iluminava mais.
De braço dado para a fonte vinha
um par de noivos todo satisfeito.
Ela trazia ao ombro a cantarinha,
ele trazia o coração no peito !
Sem suspeitarem de que alguém os visse,
trocaram beijos, ao luar tranquilo.
O Menino, porém, ouviu e disse:
- Ó Frei António, o que foi aquilo?
O Santo, erguendo a manga do burel
para tapar o noivo e a namorada,
mentiu com a voz doce como o mel:
- Não sei que fosse. Eu cá não ouvi nada...
Uma risada límpida e sonora vibrou, 
em notas de oiro pelo caminho.
-Ouviste ,Frei António ? Ouviste agora? 
-Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho... 
- Tu não estás com a cabeça boa!
Um passarinho a cantar assim?
E o pobre Santo António de Lisboa calou~se, 
embaraçado, mas por fim corado, 
como as vestes dos cardeais,
achou esta saída redentora : 
- Se o Menino Jesus pergunta mais,
queixo-me a sua Mãe, Nossa Senhora .

***
Augusto Gil

1 comentário:

  1. Saudades vossas caros Amigos e também de fazer os jograis. Lembro-me de gostar muito de ouvir a Joana neste poema :)

    Cumprimentos,
    Bruno Moreira

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